Tchau


Ai num dia qualquer, numa hora qualquer e também, com uma roupa qualquer ela aparece no meu portão toda sorridente, quase implorando pra entrar. E começa a olhar desesperadamente para os lados como se procurasse um propósito para a tal visita. “O que ela está fazendo aqui?” me perguntei desde quando atendi o interfone sem vontade alguma de receber alguém em casa. Mas ela entrou. Entrou não, se atirou para dentro. Não deu nem tempo de soltar a famosa desculpa “O cachorro está solto”.

E com o ar da graça resolveu interrogar sobre a minha vida. Queria saber de tudo, e o tudo não é pouca coisa não. Tinha muita coisa nova no pedaço desde quando ela passou de amiga para ex-amiga. Lembro-me exatamente o porquê dessa mudança de posto repentina. Ela não. “Babaca”. E eu uma boba cheia de consideração fingi não me lembrar da magoa que estava me cercando um tempinho atrás e abri todas as portas e janelas do meu coração. Contei tudo, e esse tudo foi tudo mesmo, não deixei passar nem um segundo se quer, desde quando tudo começou –ou terminou, eu não sei. E como forma de gratidão encobrindo uma invejinha, ela contou, não detalhadamente, sobre sua mudança de apartamento, de namorado, de carro, de cabelo, de amiga e menos de cérebro. Senti uma facada nas costas. Ela tinha uma nova amiga, que provavelmente também chamava com apelidinhos trissílabos e carinhosos. Odiei.

De repente foi como se toda aquela maquiagem cara que ela costumava comprar no centro da cidade tivesse derretido e revelado sua verdadeira face. Fingi não levar a sério, eu era boba. Era a mesma coisa, só que com uma pessoa diferente.

“Amiga” deveria ser uma palavra tão frágil quanto “eu te amo”, mas não é. Ela deveria saber.

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