Irônico destino do amor

Tinha um olhar disperso, muitas vezes em noites intermináveis esquecia seu próprio nome e sobrenome. Ora era loira, ora era morena, nunca estava satisfeita. Usava os mais belíssimos saltos e nunca, jamais, em hipótese alguma tropeçava. Vivia alegre e sorridente em meio às paradas do metrô. Estava sempre sozinha, ou pelo menos achava que estava. Suas roupas quase sempre pareciam faltar alguma peça, que a pertencia antes. Ela não se preocupava. Ria de si mesma, ria de tudo.

Enquanto isso ele a observava passar de banco em banco, encostando-se em pessoas desconhecidas para se equilibrar. Não achava normal, mas não era algo considerável anormalidade. Ele quase sempre passava por ali a trabalho, mas sempre, desde muito antes a admirava. Entre trocas de olhares insignificantes (menos para ele), pode deduzir o quanto aquela misteriosa moça sorridente teria a surpreendê-lo.

Ele estava certo. Ou melhor, um tanto errado á seu respeito. Sem explicação alguma, os dois acabaram se aproximando. Não era lua cheia nem nada. Pelo menos não que eles soubessem. Estavam na estação no meio da madrugada, sozinhos esperando o próximo metrô. Bastaram alguns suspiros e os dois pareciam estar confortáveis com a própria presença. No minuto seguinte, isso não parecia tão claro quanto antes.

-Você é tão seco, irônico e sem atitude. Estou aqui há horas falando e você só sabe concordar com o que eu digo.
-Acabei de te conhecer, queria que eu também oferecesse o meu casaco além de algumas palavras?
- Sabe, isso não seria nada mal para um primeiro encontro.
- Não é um primeiro encontro.
-Anote o meu número e poderei pensar no segundo.

Ela se levantou lindamente deixando cair um papel, e sumiu entre as escadas que pareciam não ter fim. Ele achou a moça um tanto estranha, mas aceitou a idéia de um segundo-primeiro-encontro que parecia ser mais bem sucedido que este.

Ela era totalmente, sem sombra de dúvidas o oposto dele.  Tinha certeza do que queria, enquanto ele se contentava com o talvez. Ela era auto-suficiente e ele dependia até do sim de alguém. Ele gostava de lugares calmos e com boa bebida, ela preferia lugares badalados com qualquer tipo de cerveja barata. Eles não se gostavam, mas também não se odiavam. Saiam sempre juntos, mesmo que acabassem indo embora sozinhos depois de discussões ao relento. Foi assim por muito tempo: brigas e mais brigas, ligações de desculpas no meio da noite, verdades ditas na cara, risadas pelo que aconteceu, até que ironicamente ou propositalmente dependiam um do outro para encontrar a felicidade.

 Eles estavam apaixonados e poderiam negar o quanto fosse, que estava ali estampado na cara o quanto eles se amavam apesar ou talvez, por causa de tudo.

Um comentário:

Aline Ferreira disse...

Você escreve bem, *--*.
Gosto de ler cada cantinho daqui.