(Des)conhecido?

Seu cabelo era grande, um tanto antiquado para um jovem do século XXI, mas ele não se importava. E não devia, aquilo servia como um toque especial junto com todo o seu charme. Parecia ser pequeno demais para estar em cima daquela moto, que aparentava certamente não ser dele. Não era. Um desconhecido que sabia mais de mim do que deveria. Por outro lado, isso facilitou o nosso diálogo que rapidamente fez parecer mais uma conversa de dois melhores amigos sentados na calçada em plena sexta à noite. Foi muito mais que isso. Senti quando seus olhos tentavam demonstrar interesse a cada frase dita por mim, quando sua mão tocava a minha como desculpa de demonstrar o quanto estava frio lá fora. Um primeiro encontro não programado que deu muito mais certo do que todos os outros. Quando dei por mim cantávamos sincronizadamente uma música Scracho, a nossa música, e foi a partir daí que nos apaixonamos. 

Mas como toda boa historinha de amor de todas as outras pessoas que apenas só um gostava e demorava a conquistar o outro e blá blá blá, a nossa era diferente. Ou talvez, eu era diferente demais para aquilo, tanto faz. E assim, assumindo todos os sentimentos ele aparecia quase todos os dias na porta do meu colégio com um sorriso lindo e um abraço enorme. Eu gostava daquilo, gostava mesmo só nunca disse o quanto. As noites em que eu fazia de tudo para sentir novamente aquele perfume que ficava preso em mim, como o pior tipo de tortura era fascinante. A forma como suas bochechas ficavam fácilmente coradas quando alguém perguntava sobre a sua então namorada era deslumbrante. Era. Não é mais.

Seu cabelo já não tem sinal nenhum de crescimento ao contrario dele, que felizmente cresceu. Deixou aquela inocência de lado, junto com as lembranças, junto com as músicas, junto comigo. E hoje, depois de tanto tempo ainda relembramos daquela época inocente e feliz que dividimos, mas não restou nada além do mesmo sorriso que eu via todas as manhãs. Somos quase-dois-semi-desconhecidos com histórias para contar, só isso.